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sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Walter Taverna, UNINDO FORÇAS : “Somos nós que cuidamos de nossa cidade. O exemplo começa em cada cidadão”, ensina o notável agitador cultural da Vila Mariana e do Bixiga.

UNINDO FORÇAS



Quando as demandas não são atendidas pelas vias oficiais, as ruas do bairro viram palco para manifestar as insatisfações dos moradores. Em 2002, vizinhos se mobilizaram para garantir um patrimônio do bairro.  Eles moveram uma ação civil e deram um grande abraço no Instituto Biológico para pedir o tombamento do conjunto arquitetônico como bem cultural de interesse histórico, arquitetônico e urbanístico.  


E hoje a preservação está garantida pelo Conpresp e Condephaat, órgãos de preservação municipal e estadual respectivamente. Falta agora ser   tombado também pelo Iphan (esfera federal).

Em 2004, sob o comando do primeiro-ministro da República da Vila Mariana, o sr. Walter Taverna, um grupo de moradores saiu às ruas para pedir a reabertura da Casa Modernista, que correu o risco de ser vendida e, por anos, permaneceu fechada. 


“Somos nós que cuidamos de nossa cidade. O exemplo começa em cada cidadão”, ensina o notável agitador cultural da Vila Mariana  e do Bixiga.

O engenheiro agrônomo e conselheiro participativo Ricardo Fraga de Oliveira  encampou, em 2013, a intervenção coletiva o Outro Lado do Muro contra a construção do condomínio Boulevard Ibirapuera no último amplo terreno do pedaço, localizado no número 534 da Av. Conselheiro Rodrigues Alves. 

Alegava que ali está o rio Boa Vista, que segue pela Rua Maestro Callia e deságua no Parque Ibirapuera. O movimento consistia em convidar os pedestres a olhar o terreno e imaginar seu destino, para depois desenhá-lo e pendurá-lo num varal preso ao muro. Tanto as crianças quanto os adultos desenharam o melhor destino para o terreno: abrigar uma praça. 


Mas de nada adiantou a mobilização e as obras foram iniciadas — e chegou a ser embargada no final da gestão do prefeito Kassab pelo secretário do verde e do meio ambiente Eduardo Jorge. No entanto, os interesses econômicos ganharam mais uma vez e, hoje, a área abriga três torres de 27 metros, com 750 vagas na garagem. 

A força da construtora Mofarrej somada, à época, aos escândalos de corrupção envolvendo Hussain Aref Saab, ex-diretor da secretaria Municipal de Habitação, órgão responsável pela liberação de obras na prefeitura, venceu a vontade da comunidade. E, ainda, Ricardo Fraga foi pro-cessado pela construtora que teve ganho de causa. A Justiça determinou que, caso Fraga ultrapassasse o raio de 1km da obra, teria que pagar uma salgada multa. Ele também foi proibido de fazer menção ao caso na internet e na página do movimento no Facebook.


Além de lhe render o apelido de Ricardo do Muro, a intervenção despertou a coletividade dos moradores, avalia o vizinho. “Eu percebi que as pessoas queriam participar, só que não sabiam de que forma. A manifestação em favor da praça na Av. Conselheiro Rodrigues Alves foi um instrumento importante para ativar essa vontade, pois todos podiam se expressar. Percebi que a participação dos moradores é contida”, observa.


Para Fraga, a mobilização mostrou a necessidade de união para garantir os direitos dos moradores. “O Outro lado do muro me fez refletir sobre a ocupação do espaço urbano, sobre a nossa relação com o bairro e, principalmente, sobre o que podemos fazer para torná-lo cada vez melhor. O número de vizinhos que estão preocupados e que querem participar das causas coletivas aumentou , principalmente em casos de especulação imobiliária. Enquanto querem construir prédios, nós queremos abrir os nossos rios, ampliar as áreas verdes, com mais espaços de convivência entre os vizinhos. Só precisamos nos organizar para lutar a favor das nossas causas”, afirma.

NOVA ASSOCIAÇÃO
Essa falta de representatividade dos moradores  diante das decisões que determinam os rumos do bairro motivou um grupo de vizinhos a fundar uma nova associação de moradores da Vila Mariana, limitada na área situada entre as Avenidas 23 de Maio e Sena Madureira e a Rua Domingos de Morais. 

“A associação nasceu para suprir a nossa falta de voz diante das transformações que a Vila Mariana vem sofrendo nos últimos anos”, diz o geólogo Giuliano Saraceni Issa Cossolin, um dos fundadores da nova entidade para defender o bairro. E ele justifica: “Em muitos momentos nos vemos sem ter a quem recorrer. Numa área tão importante como a nossa, que dá acesso ao Parque Ibirapuera, abriga muitos patrimônios e liga a Zona Sul ao Centro, é muito importante que tenhamos voz. Não podemos ficar apenas olhando”, adverte.
A associação, afirma Giuliano, dará força às solicitações dos moradores. “Somente orga-nizados é que iremos conseguir cobrar as nossas demandas junto ao poder público. Há muitas melhorias para serem feitas no bairro e precisamos pleiteá-las: melhorar a segurança, nossas calçadas, resolver o desperdício de água pelos prédios, criar espaços de lazer, preservar os nossos patrimônios. Precisamos ter poder de 
decisão sobre tudo isso”, alerta.

Durante as suas caminhadas pelo pedaço, aos fins de tarde, a arquiteta Denise Sotiropulos diz se assustar com o estado de abandonado do espaço público. “É um horror! As lixeiras, que já são insuficientes, estão despencando pelas ruas do pedaço; as calçadas estão todas esburacadas e oferecem sérios riscos aos pedestres, principalmente aos idosos e aos que têm mobilidade reduzida...”.

Foi para cobrar ações para essas causas comuns do bairro que ela se apresentou para ajudar a fundar a nova associação de moradores. “Não podemos ficar de braços atados enquanto o bairro é alterado a desgosto de quem vive nele. As construtoras estão derrubando a nossa história e precisamos nos unir contra isso. Essa associação será muito importante para preservarmos o bairro e cobrar ações efetivas a esse respeito: primeiro do poder público, e, depois, das empresas privadas”, diz a arquiteta.

Denise também destaca algumas das demandas muito cobradas pelos moradores e que, embora não tenham sido contempladas no Plano de Metas da prefeitura, foram abraçadas pela nova associação. “É o caso do Largo Ana Rosa, ponto histórico do bairro que hoje se encontra deteriorado e abandonado pelo poder público; a reurbanização da Comunidade Mãos Unidas, na Rua Mário Cardim; e a requalificação da
Av. Dante Pazzanese, totalmente esquecida”.

Segundo ela, a associação permitirá cobrar uma participação mais efetiva das empresas para a preservação do bairro. “As construtoras são um bom exemplo disso. Elas têm muitos benefícios para construir aqui e não oferecem nada de contrapartida, não trazem nenhum benefício aos moradores. O adensamento do bairro está fora de controle. As empresas que estão lu-crando em nossa região precisam investir nela, seja numa praça, numa calçada, num espaço de convivência ou em ações que melhorem a nossa qualidade de vida. Nós é que precisamos cobrar isso delas”, observa. 

Para os vizinhos, uma associação forte também dará condições para fazer parcerias com os centros hospitalares, educacionais e culturais da região, visando contribuir para a preservação da identidade do bairro, de seus patrimônios e para ga-rantir a qualidade ambiental a seus moradores. 

“Todos que gostam de viver aqui precisam ajudar a cuidar do nosso bairro. De forma isolada, não iremos muito longe. A Vila Mariana precisa se unir para ter uma voz que represente seus moradores. E é isso o que estamos buscamos com essa associação”. 
“Vamos fundá-la ainda este ano, provavelmente durante uma festa comunitária programada para o dia 23 de setembro, na Rua Dr. Álvaro Alvim. Quem quiser participar, fique de olho na página do Pedaço da Vila do Facebook. “Vamos pedir a adesão de todos os moradores”, adianta Denise.


Assinem nossa petição no Avaaz: goo.gl/v3JYhN





Centro de Memória do Bixiga acervo: @edisonmariotti


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